Por: Sandro Müller / Portal do Surfista Comum
O Portal do Surfista Comum inaugura um novo espaço, o de entrevistas com nosso público e para falar de surf, atitude, opiniões, enfim de vida de personagens que tem ou já tiveram em suas vidas, foco no esporte dos deuses.
Iniciamos com nada mais nada menos com Erick Marques, conhecido no meio do surf por muito tempo como Esquimó de Itanhaém. Ex-surfista profissional, em uma época que havia pouca diferença em ser profissional ou amador, pois o apoio ao esporte era infinitamente menor que o amor a ele mesmo.
Esquimó, como já referendei em coluna anterior (leia coluna do Primo), é aquele tipo de pessoa de amigo, que mesmo que você não o veja há muito tempo, tem seus valores intocados, amparados pela força de vontade e amor a vida. Bem chega de introdução, vamos às perguntas:
1) Nome:
Erick Marques Oliveira
2) Idade:
45 anos
3) Time do coração (risos):
Corinthians
4) Começou no surf, onde e quando?
Itanhaém litoral sul de São Paulo, praia do Satélite e praião (centro)com alguns amigos 1976.
Erick me responde de forma rápida, com poucas palavras:
5) Qual era teu sonho com 15 anos?
Ter uma prancha de surf La Barre, conseguir completa 360 de back side, conhecer e surfar as ondas da Silveira no Sul, surfar na praia da Guarda, correr o Festival Olimpikus de Surf na Praia da Joaquina.
6) No surf de competição, quais foram suas maiores vitórias?
Convívio com a natureza. Interagindo. A vitória foi superar os desafios existentes na própria prática do esporte, na época. Naquele período havia no Brasil que eu me lembre 4 campeonatos ao ano se não me falha, Waymea 5000 no Rio mais precisamente em Saquarema, Festival Brasileiro de Surf de Ubatuba, na praia de Itamambuca, organizado pelo respeitoso Paulo Issa, o Festival de Surf de Peruíbe em São Paulo e o Festival Olimpikus de Surf Florianópolis na Praia da Joaquina.
Alguns dos desafios era dropar ondas cada vez maiores, cada vez mais cavadas, surfar bem em mar grande, mexido, fechando, com chuva e sem ninguém na praia pra assistir. Quebrar a cordinha sair nadando buscar a prancha na areia, não queria ficar boiando por muito tempo onde estivesse e com quem estivesse. Sempre treinando manobras difíceis, e assim poder completar a maior variedade de manobras possíveis e atualizadas, para a época.
O desafio era completar todas as manobras que já sabia fazer nas ondas menores e, fazer depois, nas ondas grandes. Em destaque o tubo sempre teve um sabor especial, pois eu ficava entocado dentro da onda no vácuo, lá não havia como ela me derrubar, e escutava seus segredos, á sensação era como se você estivesse dentro de uma caixa de abelhas gigante escutando seus zumbidos, isto era um vício uma sensação máxima e busca constante na prática deste esporte. As vezes eu já havia andado dentro por uma distância boa e ia ao extremo não queria sair antes, morria dentro esse caldo era gostoso. Esse detalhe era fora das competições.
7) Qual era teu sonho com 25 anos?
Ser campeão de algum evento de nível Brasil, ter os melhores patrocínios, carro e dinheiro pra ir para os melhores picos com facilidade, viagem internacional, Havaí, Austrália, ter uma casa própria em Camburi - SP.
8) Qual teu sonho hoje?
Aceite com mais resignação as adversidades, auxiliar a quem interesse através dos melhores exemplos, continuar lutando para eliminar as minhas falhas e deficiências, e dando minha contribuição para que entendo como sendo o melhor para todas as pessoas, amplo, geral irrestrito sem tabus e sem preconceito.
9) O que é um surfista comum para você?
Surfista comum pra mim é aquele surfista que faz o seu surf pra fazer sua cabeça, que não esteja nem um pouco preocupado em ser avaliado por quem quer que seja, que um simples cut back seja para si o máximo. Surf sem pressão nenhuma e que interaja somente com a natureza e o principal: saia do mar cansado e encontre-se com sua namorada. Isto é o que vale.
10) Qual o papel do surf na construção do Erick?
Influenciou forte no comportamento: respeitar a natureza, respeitar as pessoas, enfrentar desafios, valorizar as palavras, enxergar defeitos como o orgulho, a soberba, a inveja, a luxúria, aceitar o convívio adverso, aprender a todo instante com as coisas mais simples, e dar maior valor a saúde física, mental e espiritual.
11) Fala um pouco daquele tempo de muito surf, poucas estradas para acessar os picos do litoral norte paulista?
Não havia estradas (Rio - Santos) e havia somente dois horários de ônibus por dia que saia da rodoviária de Santos e atravessava duas balsas a do Guarujá e a de Bertioga e ia pela praia até São Sebastião demorava em torno de 6 horas esse trecho, com a maré baixa. Quando estava cheia tinha que estacionar o ônibus em cima do barranco e esperar a maré baixar aí demorava de 8 a 10 horas. Era bem cansativo, uma aventura. Não precisava de internet, para ir ao Litoral Norte de São Paulo era certo que iria pegar altas ondas mesmo. Inclusive as vezes em que fomos juntos, eu, Sandro Müller, e Paulo Müller, nossos ilustres diretores, o Litoral Norte Paulista nunca deixou a desejar. Principalmente porque não havia point secreto para nós, pois conhecíamos cada centímetro daquelas praias.
12) Quem eram ou são seus ídolos no surf?
TINGUINHA LIMA, surfista extremo, sóbrio (careta), profissional, seu surf estava num patamar muito evoluído e muito avançado pára a época, dava SHOW DE SURF sempre que entrava no mar, respeitoso o primeiro profissional de surf do Brasil de verdade. Inventou a manobra que levava seu nome o CUTINGA. Vi ele ganhar vários campeonatos Paulista de Surf profissional e Brasileiro de surf, ondas ocas, puxava o cut back dava um trezentos e sessenta e dava a seqüência na onda completando a manobra já entubando. Muito viram isto em final de campeonato principalmente em Itamambuca Ubatuba. Existiam excelentes surfistas na época. E existia TINGUINHA LIMA. O Tiger Woods do surf profissional brasileiro.
Explica um pouco do conceito: “A rapadura é doce , mas não é mole”?
Era uma gíria que usávamos na época, enaltecendo o momento. Geralmente dizíamos isto depois de ter enfrentado o desafio e ter sobrevivido, em qualquer instância.
Do que o Erick se arrepende na sua vida de surfista?
Ausência de equilíbrio, excessos, intensidades, ausência de diálogo ( aquele só, pode crê ). Com o conhecimento adquirido durante os anos faria diferente.
E de futuro, quais os planos acerca do esporte, soubemos que você agora corre mais e surfa menos? A maratona é meta?
Sim adaptei as corridas de rua no meu cotidiano, virei paulistano então a minha realidade é outra hoje, corro todas as provas de rua da Corpore (corredores Paulistas Reunidos), Treino com uma assessoria muito boa aqui de São Paulo a EC TAVARES, a equipe é composta por entorno de 120 atletas e os treinos são feitos no Parque do Ibirapuera, USP, Bosque do Morumbi, o somente em 2009 participei 22 provas oficiais.
Meu objetivo nos treinamentos da corrida é a maratona 42 KM , ainda não consigo estou hoje nos 30 KM.
O surf está no meu sangue! Quando estou na casa da minha mãe em Itanhaém eu sempre surfo depois das corridas na praia e o dia fica completo para mim. E também faço alguns bate e volta até Camburi com alguns amigos aqui de São Paulo.
Eu quero surfar melhor para voltar a fazer algumas viagens internacionais, Peru, México e outros, com os amigos e sem pressão. Tipo surfista comum.
Pra finalizar quero mandar um abraço forte a todos os MEUS AMIGOS DE MONTENEGRO, a toda galera que lê, assina, participa e interage com SURFISTA COMUM. Quero dar os Parabéns, ao Sandro e ao Paulo Müller pelo trabalho e, principalmente, pela forma que traduz com fidelidade o PERFIL REAL DO SURFISTA, O SURFISTA COMUM.
Muito obrigado pela oportunidade!
Erick Marques Oliveira – Esquimó.
erickmarquesoliveira@hotmail.com
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Eu assisti uma bateria entre Erick Marques e Renan Rocha em Itamambuca/Ubatuba-SP no campeonato paulista profissional patrocinado pela Sea Club. Ondas de 2 metros ou mais. Erick fez bonito, embora não tenha vencido Renan Rocha naquele dia. Renan Rocha ganhou a bateria e o campeonato. A manobra que marcou o evento foi um snapback numa onda de 2,5 metros que valeria no mínimo nota 11. Parabéns Skimó!!!
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